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52 anos depois de presenciar a fundação da SBM, docente do Instituto recebeu honraria da entidade por suas contribuições à ciência
Data da publicação: 27/08/2021

 

O ano era 1969 e a cidade, Poços de Caldas, em Minas Gerais. Uma estudante de graduação acompanhava mais uma edição do Colóquio Brasileiro de Matemática, a maior reunião científica nacional da área. Naquela época, participar de um evento dessa magnitude era algo praticamente impensável para quem não fosse pesquisador, principalmente pelas limitações dos recursos de comunicação, que dificultavam que os alunos tivessem amplo acesso ao que ocorria no universo acadêmico. Mas o que aquela jovem não imaginava era que, no mesmo encontro, também acompanharia a reunião de criação de uma nova entidade representativa da classe, a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), e que, décadas mais tarde, precisamente em agosto de 2021, seria homenageada como Associada Honorária pela Instituição.

Esse foi o título concedido à Maria Aparecida Soares Ruas, professora emérita do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, durante a cerimônia de posse da nova diretoria da SBM, realizada no início do mês, de forma remota. “Foi uma grande surpresa, até poucos dias antes do evento eu não tinha ideia que iria receber essa homenagem. Fiquei muito emocionada, feliz e honrada com a lembrança, ainda mais porque desde a década de 70, quando essas honrarias começaram a ser concedidas, apenas 26 cientistas foram homenageados”, conta a pesquisadora, que ingressou no ICMC em 1971 para realizar mestrado, logo após concluir a Licenciatura em Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), em Araraquara.

A honraria de Associado Honorário é atribuída a personalidades científicas que contribuíram com a formação de estudantes e para o avanço da matemática. Pesquisadora da área de Teoria de Singularidades, Cidinha, como é carinhosamente chamada pelos colegas, já publicou 73 artigos científicos em periódicos internacionais, participou da elaboração e produção de cinco livros, orientou e ajudou a formar 11 mestres, 20 doutores, nove estudantes de iniciação científica e ainda supervisionou 19 cientistas de pós-doutorado.

A docente, que participou da diretoria e do conselho da SBM, lembrou de um fato curioso da história da Instituição que, na sua opinião, ajudou a aprimorar a atuação da entidade: “Creio que apenas uma vez duas chapas concorreram à presidência da SBM, foi em 2001, ano em que eu me candidatei para presidir a instituição, mas acabei perdendo. No entanto, acredito que essa experiência foi um processo positivo, pois o fato de ter havido uma competição naquele ano fez com que duas chapas criassem programas de ações, promovessem debates, entre outras atividades que, de certa forma, contribuíram para consolidar práticas de atuação da SBM em consonância com um plano de metas previamente estabelecido. Foi um capítulo que gerou reflexões futuras”, conta.

Carreira e paixão pela área – Cidinha obteve o título de mestre em 1974, sob orientação do professor Gilberto Francisco Loibel, que, inclusive, foi quem a convidou junto a outros amigos graduandos para participar do Colóquio Brasileiro de Matemática, o qual deu origem à SBM, em 1969, em Minas Gerais. No ICMC, a homenageada concluiu o doutorado em 1983 e foi orientada pelo professor Luiz Antonio Favaro. Antes disso, porém, já era professora do Instituto, onde começou a lecionar em 1981. Ela também foi a primeira mulher a chefiar o Departamento de Matemática da Instituição.

Um dos segredos que ajudaram a professora a construir e consolidar a carreira como docente e cientista é o seu amor pelo ensino e o interesse pelo constante aprendizado: “Sempre quis ser professora, gosto de ensinar e já dava aula particular de matemática desde os meus 12 anos para alunos do ensino fundamental. A interação com os estudantes é do que mais gosto, sejam eles da graduação, pós-graduação ou até mesmo aqueles que já se formaram e ainda entram em contato. Aprendo com eles todo dia”, revelou a cientista em reportagem publicada em 2020 pelo ICMC.

De perfil calmo e com uma capacidade didática para ensinar conceitos complexos de forma simples, Cidinha acompanhou de perto a evolução do ensino de matemática no Brasil. Com a expansão dos programas de pós-graduação no país a partir da década de 1960, a matemática passou a se estruturar e, atualmente, o Brasil figura na elite da ciência mundial da área. Para o futuro, a professora acredita que o país manterá seu conceito de excelência, mas espera que o sucesso da matemática brasileira no universo das pesquisas se torne uma realidade em todos os níveis da educação.

“A matemática brasileira promete crescer ainda mais em qualidade. Quando olhamos para os programas de pós-graduação, vemos grupos de excelência em todas as regiões do país, por isso penso que as perspectivas são muito boas. Por outro lado, devemos dar atenção para a educação básica em matemática, que ainda não é satisfatória. Precisamos olhar para além da pesquisa, temos que buscar a melhoria do ensino como um todo”, finaliza.

 

Texto: Henrique Fontes – Assessoria de Comunicação do ICMC-USP
Foto: Reinaldo Mizutani

 

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