Daniel (último à frente e à direita): primeiro mestre em
Matemática, Estatística e Computação Aplicadas à Indústria do ICMC
É a segunda vez que Daniel Rodrigues vem ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Embora esteja concluindo um percurso de três anos como aluno de pós-graduação do Instituto, ele só esteve aqui quando entregou a cópia impressa de sua dissertação de mestrado e agora, no momento em que faz a defesa oral de seu projeto.
Analista de risco no Itaú-Unibanco, Daniel sonhava com a possibilidade de realizar um programa de mestrado de alta qualidade desde que ingressou no banco, em julho de 2010: “Mas era difícil encontrar uma opção em que fosse possível conciliar a pesada carga horária de trabalho com o curso, de modo que pudesse me dedicar às duas atividades”.
Por isso, quando surgiu a oportunidade de ingressar na primeira turma do Mestrado Profissional em Matemática, Estatística e Computação Aplicadas à Indústria (MECAI), em 2014, Daniel não pensou duas vezes. “Com as aulas sendo ministradas em São Paulo, casou exatamente com o que eu buscava”, revela o recém-mestre. “Foi uma surpresa muito boa para mim a abordagem que o programa teve, com os professores da USP direcionando o curso para um lado bem acadêmico e, sem perder a identidade da proposta, fazendo uma conexão com as necessidades atuais da indústria”, completa.
Daniel foi o primeiro a passar pela etapa final da jornada pelo MECAI. Ele apresentou a dissertação de mestrado na manhã do dia 22 de setembro. Depois dele, outros seis pós-graduandos do programa submeteram seus projetos à avaliação e, junto com Daniel, formam o grupo dos primeiros formados pelo MECAI.
Começo dos desafios – Do lado oposto ao projetor em que Daniel expõe a pesquisa que desenvolveu ao longo desses três anos, na ampla sala onde se reúne a Congregação do Instituto, estão os quatro pesquisadores que avaliarão o projeto, diante de uma ampla mesa. Entre eles, está Francisco Louzada, professor do ICMC que orientou Daniel e, antes da defesa começar, diz emocionado: “É a primeira vez que participo de uma banca formada apenas por meus ex-alunos”. A seu lado estão Adriano Suzuki e Katiane Conceição, ambos professores do ICMC, e José Augusto Fiorucci, que é pós-doutorando do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Unesp, no campus de São José do Rio Preto.
Depois da apresentação de Daniel, Louzada diz que se sente orgulhoso por perceber que seus alunos evoluíram ao longo do tempo, mas que não deixaram de lado os ensinamentos que receberam, pois continuam pesquisando e publicando. Ao que tudo indica, Daniel dará continuidade a essa tradição porque também pretende continuar os estudos. “Espero que surja uma oportunidade de doutorado parecida com o MECAI. Estou envolvido em iniciativas para tentar aproximar a indústria das universidades e pretendo conversar bastante com o pessoal do programa, pois percebi que esse sentimento é mútuo”.
De fato, aproximar a USP do setor produtivo é um dos principais desafios que motivaram a criação do programa, tanto que a iniciativa está ligada ao Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CEPID-CeMEAI), sediado no ICMC. “Houve sempre uma dificuldade em promover esse diálogo entre as instituições acadêmicas e as empresas”, explica a professora Ellen Francine, que foi coordenadora do MECAI até novembro.
Segundo Ellen, um dos principais diferenciais dos mestrados profissionais é, exatamente, possibilitar que quem já está inserido no mercado de trabalho possa voltar para o contexto da universidade e da pesquisa. Dessa forma, surgem oportunidades para o desenvolvimento de projetos voltados a resolver problemas existentes dentro das empresas, por meio da realização de pesquisas aplicadas aos locais em que os profissionais atuam.
Louzada (ao centro) e seus ex-alunos:
Adriano e Daniel à esquerda; José Augusto e Katiane, à direita
Reduzindo riscos – O projeto de Daniel – intitulado Aplicação de medidas de causalidade na geração de cenários de Monte Carlo como alternativa para precificação de contratos de opções – é um exemplo das contribuições que o campo da estatística pode trazer ao mercado financeiro. O professor Louzada conta que modelos estatísticos tradicionais empregados atualmente na área de finanças podem ser inadequados para estimar o valor futuro de ativos, o que aumenta, consequentemente, o risco de prejuízos. “O projeto de Daniel mostra o quanto é relevante buscarmos novos modelos estatísticos, que sejam alternativas para os modelos tradicionais, levando em consideração as relações entre diferentes ativos”, diz Louzada.
Grosso modo, a pesquisa realizada por Daniel apresenta uma metodologia estatística para a obtenção de projeções futuras aplicadas a um ativo financeiro, nesse caso trata-se da precificação de opções. Ele acredita que o estudo abre possibilidades para que a instituição em que trabalha, o Itaú Unibanco, evolua nos cálculos de risco: “Esses cálculos fornecem informações cruciais para a administração da empresa e também podem viabilizar operações que, sem essas estimativas, o Banco não faria”.
Ao mostrar que é possível promover evolução das técnicas que o mercado usa atualmente e projetar cenários futuros que forneçam um embasamento adequado para a tomada de decisões de negócios, a pesquisa de Daniel reforça quanto aproximar a Universidade do setor produtivo pode trazer vantagens para todos.
Além das finanças – A professora Ellen explica que a primeira ênfase oferecida aos alunos do MECAI foi voltada à área financeira. Porém, ao longo dos quatro anos de existência, o programa evoluiu e verificou-se a necessidade de propiciar uma formação mais abrangente. Por isso, para as turmas seguintes foi oferecida a ênfase em ciência de dados, que possibilitou abarcar a área médica, o agronegócio e a governança empresarial.
Além disso, as aulas da primeira turma foram ministradas na cidade de São Paulo, mas as demais turmas cursaram as disciplinas no ICMC. “Agora, os alunos têm aulas em São Carlos às sextas-feiras. Temos alunos que vêm de São Paulo, Ribeirão Preto e notamos uma grande demanda na região, o que não nos impede de eventualmente oferecer novas turmas com aulas na capital”, afirma Ellen.
Ela ressalta que, independentemente de onde as aulas são ministradas, há um esforço dos professores e dos alunos para concentrar as demandas em um único dia da semana, já que todos os estudantes trabalham. Mas isso não implica dizer que o nível de dificuldade é menor do que em um mestrado acadêmico.
Ao analisar os primeiros anos do MECAI, a professora destaca que a experiência tem sido muito positiva: “Houve uma evolução nas disciplinas oferecidas e no escopo de professores orientadores, pois agora temos mais pesquisadores de outras instituições, como a UFSCar e a Embrapa. Mas ainda estamos aprendendo com a experiência e queremos estabelecer parcerias mais efetivas com o setor produtivo”. A julgar pelos resultados alcançados nos primeiros quatro anos, não é preciso ser um estatístico para estimar os impactos positivos que o MECAI terá.
Texto e fotos: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação ICMC/USP
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