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Data da publicação: 02/12/2016

Esta entrevista foi originalmente publicada na revista ICMCotidiano nº 101, edição de abril, maio e junho de 2013

 

 

Ela foi a primeira mulher a se tornar professora titular no ICMC, em 1993, exatos 20 anos depois de chegar ao Instituto como visitante. Hoje, quando a argentina Maria Carolina Monard olha sua “árvore de orientações” e vislumbra a geração de “netos” e “bisnetos” por ela orientados, fica admirada. “Na minha carreira, a maior sorte que tenho são meus alunos”, declarou a professora que, apesar de ter se aposentado em 2011, continua na ativa, agora como professora titular sênior.

Reconhecida como um dos grandes nomes da área de inteligência artificial no Brasil, ela participou direta e indiretamente da formação de um grande número de mestres e doutores, como podemos ver nos galhos de sua imensa árvore.

Sua formação acadêmica começou na Argentina, onde em 1962 licenciou-se em Matemática e Física. Fez seu mestrado em Ciências de Computação na Universidade de Southampton, Reino Unido, e doutorado em Informática na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 1987, retornou ao Reino Unido para fazer pós-doutorado na Universidade de Strathclyde.

Dentre as diversas premiações que recebeu, destaca-se o Prêmio de Mérito Científico em Inteligência Artificial, concedido pela Sociedade Brasileira de Computação. No ICMC, teve papel primordial na criação do Laboratório de Inteligência Computacional (LABIC), onde atua até hoje com os temas de aprendizado de máquina, mineração de dados e mineração de textos.

Confira, no bate-papo a seguir, como a professora semeou sua trajetória e os inúmeros frutos que vêm colhendo.

 

Como nasceu seu interesse pelas áreas de Matemática e Computação? Seu mestrado é em Ciências de Computação, um campo predominantemente masculino. Na época em que iniciou sua trajetória, havia outras mulheres que também optaram por esse caminho?

Sempre gostei de Matemática, no primeiro e no segundo grau. Fui estudar Computação porque nessa época surgiu na Argentina a carreira de Computação Científica pelas mãos do professor Manuel Sadosky. Então, terminei a licenciatura e entrei na Universidade de Buenos Aires nesse curso. Depois de concluído, fui à Inglaterra fazer meu mestrado, eu era a única mulher da sala. Mas sempre foi tranquilo, nunca tive problemas com isso.

 

Como era o ambiente de trabalho na época em que chegou ao Brasil na década de 70?

O ambiente no ICMC era muito bom, aqui era bem menor. Não houve dificuldade alguma na adaptação.

 

Como foram as suas experiências no exterior, em especial no Reino Unido?

Todas as minhas experiências no exterior foram excelentes. Adoro a Inglaterra, tenho amigos ingleses até hoje, poderia ter ficado por lá, mas não quis. Morei na Inglaterra, Venezuela, Canadá e agora aqui. Quando você vive em outro país, mesmo depois da mudança, sempre acaba ficando uma ligação. Nunca tive problemas de adaptação nos países, sempre achei normal. É mais fácil morar na Inglaterra, que é um país de primeiro mundo, onde regras são estabelecidas e você deve cumpri-las rigorosamente, do que no Brasil, onde existem regras, mas para tudo se dá um jeito. Isso não acontece só no Brasil, mas em todos os países latinos.

 

Qual das pesquisas que desenvolveu na área de Inteligência Artificial considera sua maior contribuição?

Computação é um campo um pouco difícil porque se você fez um trabalho vinte anos atrás que teve uma grande contribuição, cinco anos depois já não representa nada porque já é algo corriqueiro. Da mesma forma, uma coisa que você faz agora pode parecer importante e daqui a três anos já se tornar elementar. Por isso, não poderia falar apenas de uma pesquisa, todas tiveram a sua importância no seu tempo.

 

Como vê o futuro da pesquisa em Inteligência Artificial?

Eu acho que é uma área muito promissora, não só agora, mas já faz tempo que tem se mostrado de muita importância. É uma área que está aqui para ficar, não é passageira. Nós estamos trabalhando com I.A. há mais de 20 anos. No início, criava espanto, mas agora a I.A. está em tudo. No entanto, existe muito para ser feito e também temos que pensar para onde vamos com o uso da I.A.

 

Existe uma “Árvore de Orientações” com um leque de alunos que a senhora orientou, os quais, posteriormente, orientaram outros alunos. Qual o significado dessa árvore?

Na minha carreira, a maior sorte que eu tenho são os meus alunos. A grande maioria deles ficou na parte de ensino, e eles orientaram outros. Então, isso significa que eu fiz o trabalho de formação de recursos humanos, o qual temos que fazer. Eu não tinha ideia que eram tantos alunos, era uma coisa com a qual não me preocupava, queria apenas fazer meu trabalho bem feito. E quando vi essa árvore, fiquei admirada. Já tenho netos e bisnetos, pois já tenho gente que orientei que orientou e que está orientando. É incrível!

 

  Maria Carolina e alguns de seus orientandos (da esquerda para a direita): André Carvalho, Graça Nunes, Sandra Aluísio, Roseli Romero e Solange Rezende

 

Como é o relacionamento com os seus orientandos? Existe algum tipo de técnica para motivá-los?

Cada aluno é diferente, cada um tem a sua personalidade. Mas eu gosto de trabalhar com gente jovem, eu tenho mais paciência com eles do que com adultos. Com os jovens eu me divirto e aprendo muito, acaba sendo uma troca. Depois de formados, sempre mantenho contato com meus alunos. Após produzir tanto, seu descanso seria mais que merecido e, mesmo assim, quis continuar na ativa como Professora Titular Sênior, por quê? Eu tenho sorte por trabalhar com algo que não exige esforços ou cobranças a todo o momento. Estou me aposentando aos poucos, para que eu não sinta tanta falta. Agora estou trabalhando apenas como orientadora, que é a parte de que eu mais gosto. Sempre digo aos meus alunos que nós nunca teremos um trabalho que nós gostemos 100%, todo trabalho tem uma parte que nós não gostamos, mas temos que fazer bem. Porém, mais de 50% do meu trabalho eu sempre gostei, por isso não posso me queixar.

 

 A árvore de orientações de Carolina

 

Texto: Maristela Galati – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP

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