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Um Instituto Singular e Plural equaciona cinco décadas em fatos históricos e de vidas.
Data da publicação: 24/06/2022

200 exemplares foram impressos e versão digital terá acesso aberto. Crédito: Reinaldo Mizutani

 

Ninguém precisa ser aluno, funcionário ou professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, para perceber que está em um ambiente de vanguarda, de visionários, de pessoas interessadas em desafiar o futuro e extrair dele o potencial proporcionado pelo conhecimento.

É uma espécie de herança que só faz expandir e que, cinco décadas depois, sabemos, com exatidão e em detalhes, de onde veio. Fundamentalmente, dos sonhos muito bem projetados dos futuristas que iniciaram os anos setenta determinados a construir, tijolo por tijolo, cada um dos prédios que hoje abrigam um centro de excelência nacional e internacional na formação de pesquisadores e profissionais nas áreas de Ciências de Computação, Estatística, Matemática e Matemática Aplicada, e em suas áreas relacionadas.

Nos interessava, no entanto, saber mais, entender como eles fizeram isso e como essa trajetória se deu. Seguimos no sentido contrário do tempo para buscar as respostas para essa equação e o resultado, denominado “Um Instituto Singular e Plural”, é o livro-reportagem que acaba de ser lançado para resgatar e eternizar o Jubileu de Ouro do Instituto. A distribuição começará a ser feita no dia 24 de junho, são 200 exemplares impressos, com edição única e restrita, e a versão digital de acesso aberto disponível no Portal de Livros Abertos da USP, no site da Editora Pimenta Cultural e, em breve, em outras plataformas de livros abertos.

 

Cinco décadas equacionadas em acontecimentos e histórias de vida

“Esta obra é a busca por selecionar e narrar acontecimentos e histórias de vida singulares. Tão singulares que cada capítulo pode ser lido separadamente um do outro, na ordem em que o leitor desejar, já que são independentes, apesar de fazerem parte de um todo, que é, paradoxalmente, muito maior do que a soma de suas partes”, disse a autora para apresentar a publicação de 268 páginas que alinha a trajetória do ICMC com cada uma de suas cinco décadas.

Analista de comunicação no Instituto desde 2013, Denise Casatti é jornalista e mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Atualmente, é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Foi dela o desafio de escrever o livro-reportagem, um projeto que contou com o apoio de muitas mãos dedicadas igualmente na estruturação de cada um dos capítulos. Uma história que não poderia ter sido iniciada de melhor forma senão com os números que demonstram curvas ascendentes para quantidade de alunos, docentes, cursos, produções científicas, laboratórios, equipamentos, acervos, orçamentos, entre outros indicadores.

 

Os principais momentos dos 50 anos foram destacados em uma linha do tempo. Crédito: Divulgação

 

Com o apoio de uma linha do tempo, o leitor poderá se guiar por datas e fatos eleitos pelos membros de uma comissão encarregada pelo projeto de criação do livro. Juliana Moraes, que fez parte da comissão, falou sobre esse processo – ela é chefe técnica da Biblioteca Achille Bassi e já dedica 25 anos da sua carreira ao ICMC. “No início, tivemos momentos de preocupação porque estávamos diante de um universo gigantesco de acontecimentos que mereciam ser abordados e sabíamos que não seria possível dar um passo desse tamanho para registrar tudo, que uma seleção seria necessária e que teríamos muitos desafios, inclusive sobre a escolha das pessoas entrevistadas. O material produzido para os aniversários anteriores do Instituto foi a base para traçar a linha do tempo dos 50 anos. Revisamos esses fatos, acadêmicos e administrativos, e incluímos os últimos acontecimentos. A seleção de cada momento e de cada perfil foi muito conversada e debatida nas reuniões da comissão, e, a partir daí, dividimos as tarefas para cada membro e iniciamos as buscas de informações em diferentes fontes, departamentos, órgãos da USP, com a meta de encontrar documentos, contatos a serem entrevistados e tudo o que pudesse ser relevante para alimentar a autora com esses conteúdos”, explicou Juliana.

 

28 de dezembro de 1971

É a data que oficialmente o Instituto de Ciências Matemáticas de São Carlos (ICMSC) foi registrado em um decreto publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo.

O capítulo no livro que narra esse nascimento, com certeza, irá encantar os leitores pelo pioneirismo e determinação dos pouco mais de uma dúzia de professores do então Departamento de Matemática da EESC, que deram conta da missão de criar uma nova unidade de ensino.

“Naquela época éramos sufocados dentro da EESC, obviamente pelo fato do importante ser a engenharia. A matemática e a análise numérica ficavam em segundo plano. A criação do Instituto foi importantíssima para um maior desenvolvimento, quando passamos a conseguir apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)”. Essa é parte de um dos relatos trazidos pelo livro, dita por Gilberto Francisco Loibel, professor titular naquele ano, quando essa luta pelo desmembramento da unidade, tornou-se ainda mais pesada, já que o Brasil vivia amordaçado pelo regime militar.

Aliás, ainda nesse capítulo de nascimento, vale um destaque para as analogias que a obra traz, relembrando fatos que marcaram 1971 no Brasil e no mundo, como o lançamento do primeiro microprocessador ou o Pelé que se despedia da Seleção Brasileira.

Ainda visitando o passado e fazendo por merecer, a Biblioteca Achille Bassi ganhou um capítulo: “Não se faz um cientista sem uma biblioteca”.  A sala da Juliana fica no terceiro e último andar do imponente prédio, rodeado de verde e, talvez, o mais frequentado de todos, com aproximadamente 400 pessoas circulando por lá diariamente. Era meio da tarde quando batemos um papo sobre a concepção do livro e ao passar por todos os andares repensei o que muitos dizem sobre as bibliotecas serem coisa do passado. Havia em todas as mesas alunos debruçados em livros e não em laptops ou celulares.

“A nossa Biblioteca tem uma grande importância histórica, começando pelo seu nome. Achille Bassi foi um italiano que, aos 32 anos, desembarcou no Brasil com sua família para fugir da Segunda Guerra. Um apaixonado por livros, que compreendia plenamente a importância dos acervos para a produção de pesquisa de qualidade, trouxe com ele raridades e fez dessa biblioteca um ponto de orgulho, de atenção e investimentos em todas essas cinco décadas. Esse é um dos motivos do interesse de alunos até os dias atuais, porque ela foi se atualizando e se modernizando”, contou Juliana.

A bibliotecária lembra ainda que o livro-reportagem “Um Instituto Singular e Plural” é o primeiro registro formal da história do ICMC. “Não tínhamos até agora nenhum documento publicado no formato de livro e que ficaria para a posteridade. Claro que não é uma história contada em uma linha do tempo tradicional, o que, ao meu ver, o torna único à medida que a leitura é leve, o texto é interessante e emocionado, e fará sentido de qualquer ponto que se leia. Quero chamar a atenção para as narrativas dos perfis que mostram o lado pessoal dos pesquisadores, todas as abdicações que tiveram que enfrentar para se dedicarem a essa história. De forma inédita, eles aparecem ali despidos da vestimenta acadêmica, é uma parte muito emocionante no livro”.

Sim! As histórias de vida são sempre as mais interessantes e ganharam uma dedicação especial da autora Denise Casatti, que trouxe para as páginas toda a beleza de cada uma delas, sempre com um olhar atento e repleto de sentimentos para o papel das pessoas na trajetória.

“Um dos propósitos deste livro-reportagem é reconhecer o que aconteceu antes e as pessoas que atuaram no cenário passado, construindo pontes/diálogos/relações com o que acontece hoje e com as pessoas que fazem parte atualmente da comunidade do ICMC. É um reconhecimento a todas e todos que ajudaram o ICMC a chegar onde chegou hoje e que pode ajudar a atual e futura geração a refletirem sobre o ICMC que desejam construir para o amanhã”, comentou Denise.

 

E como será o ICMC daqui 50 anos?

A resposta exata poderia parecer inacessível antes de 2072 chegar. Isso se não tivéssemos por aqui tantos cientistas capazes de construir um belo modelo preditivo para isso. Com a qualidade da base de dados sobre o primeiro meio século disponível nesse livro, que se torna um documento único, não seria difícil afirmar que os anos que virão serão tão ou mais promissores.

Essa é também a previsão de Maria Cristina Ferreira de Oliveira, a atual diretora do ICMC e que entra para a história como a primeira mulher a dirigir o Instituto, algo que ela prefere olhar com despretensão. “Acho que ter sido a primeira mulher diretora se deve menos ao meu mérito pessoal e mais a um sinal dos tempos, o ICMC teve outras professoras competentes que poderiam ter sido diretoras, e seria inevitável que, em algum momento, uma mulher assumisse a direção. Por um acaso, eu fui a primeira e, certamente, o Instituto conta com várias mulheres que poderão assumir essa tarefa no futuro”, disse.

Mas ao falar de sua trajetória, não apenas na direção, mas na longa carreira dentro do ICMC, o tom ganha exaltação e orgulho. Vale até relembrar o que foi dito na cerimônia de posse como diretora, em 2018. “ Sinto-me orgulhosa por fazer parte da história do ICMC, como aluna, docente, vice-diretora e Diretora. Eu não poderia imaginar, nos idos de 1982, que o ICMC se tornaria a minha casa, não apenas nos quatro anos de duração do curso de graduação, como nos seguintes 32 anos, desde 1986, quando passei a integrar o quadro docente, como uma jovem auxiliar de ensino. Tenho orgulho de pertencer a uma instituição na qual as pessoas são encorajadas a dar o melhor de si, a evoluir e contribuir com a Universidade e com a sociedade”.

Prestes a transferir o cargo ao colega André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho, que devemos, aqui, mencionar também tem papel valoroso na preparação do livro, Maria Cristina disse que reitera o que havia dito há quatro anos, agora com 36 de jornada na instituição já completados.

“Sou, desde menina, uma grande apreciadora de livros, e sempre gostei de livros que registram a história ‒ de pessoas, também de lugares e instituições. Gostaria que o nosso, em especial, fosse percebido como uma tentativa de aproveitar o cinquentenário para resgatar e preservar histórias e memórias pessoais que estão interligadas, de maneira única, com a história da nossa instituição. Acredito que as conquistas do ICMC decorrem de mecanismos e instâncias institucionais fortes que buscam privilegiar os interesses da instituição. Em geral, quem garante isso são pessoas que dedicam sua vida para o Instituto, aproveitando e acomodando opiniões diversas com uma perspectiva institucional. Nas histórias que estão no livro, eu vejo muita sinergia nessa direção, tanto dos que prestaram depoimentos como de muitos outros que são mencionados: pessoas que tinham, ou têm, ideias e sonhos sobre como melhorar o ICMC. Pessoas que têm um compromisso com a instituição acima de tudo”.

 

A diretora faz um convite ao leitor para reviver o cinquentenário do ICMC resgatado no livro-reportagem. Crédito: Reinaldo Mizutani

 

Ao ler o capítulo Um Instituto capaz de transformar a sociedade, todos saberão que isso já está sendo feito, também por meio de diferentes ações e iniciativas que extrapolam as paredes das salas de aula e levam o conhecimento para muitos segmentos da sociedade.

Porque como dissemos no início desse texto, o futuro no ICMC nunca foi algo que virá. Ele é. É um tempo sempre presente, construído por mentes inquietas e interessadas em aplicar as ciências matemáticas e computacionais nas melhores soluções para a vida.

 

Texto: Raquel Vieira

 

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